Neurociência, aprendizagem e desenvolvimento infantil – 2 a 6 meses
O ser humano aprende somente aquilo que lhe parece útil, prazeroso e que faça algum sentido para ele.
Como o professor pode ensinar os bebês e crianças pequenas a partir dessa informação?
Elaboramos uma série de postagens que organiza as informações fundamentais para que os educadores tenham sempre à mão os pontos mais significativos do desenvolvimento nervoso e dicas para observar e planejar sua atuação.
O conhecimento do funcionamento e das estruturas do sistema nervoso avança a cada dia. A área responsável por estes estudos é a Neurociência. Aliar suas descobertas à nossa experiência em Pedagogia e à valorização da história e da cultura de cada criança, enriquece a atuação e favorece o planejamento de um ambiente efetivamente educador.
Com quais culturas estamos lidando?
Qual a história de cada pequeno?
Como funciona o sistema responsável pelas aprendizagens que cada criança fará do mundo?
O que saber, observar e quais as estratégias para trabalhar com o incrível desenvolvimento do cérebro humano?
Publicaremos uma série de postagens levantando os pontos mais significativos de cada fase do desenvolvimento nervoso, sensorial, motor, da linguagem, da cognição, aprendizagem e da subjetivação (relação e subjetividade):
Lições e dicas do Colégio Sidarta
Fomos visitar o Colégio Sidarta, SP, e saímos de lá com muitas dicas e lições.
O Sidarta nasceu em 1998, da iniciativa de um imigrante chinês, Chang Sheng Kai, que queria retribuir a acolhida que o Brasil deu a ele e sua família. Com isso, foi criado o Sidarta como escola de aplicação.
O que isso quer dizer?
Aí vem a primeira lição dessa comunidade: pesquisar o mundo para se pesquisar e se reinventar. A equipe da escola está sempre intranquila. Lá se busca conhecer o que acontece no mundo da Educação, da Ciência e da Cultura para arriscar novos modos. Segundo a diretora Claudia Siqueira, se você não arrisca não aprende. Criamos uma escola para a criança. Enquanto existem escolas oferecendo “metodologias”, a gente procura ser o que a criança precisa.
Assim, o Sidarta é uma referência que cumpre com a missão de levar seus princípios e práticas educacionais para o maior número de pessoas. Tem uma atuação importante na rede pública do seu entorno, abrindo seus conhecimentos em formações continuadas com os educadores.
História: Mordida não, Napoleão!
Depois de procurar e não encontrar, escrevemos um pequeno livro digital de história infantil com a temática da MORDIDA. O livro com enredo da Joyce M. Rosset, foi deliciosamente ilustrado por Pietro Nicolodi.
Nesta época do ano as mordidas estão em pleno vapor! Trabalhar essa questão com as crianças exige paciência e dedicação. O educador precisa aperfeiçoar a escuta, manter o radar ligado e ensinar aos pequenos alternativas para expressar as suas frustrações. Conversar com o grupo sobre esse tema também ajuda. As histórias contadas nas rodas são um bom disparador para colocar todos, mordedores e mordidos, na conversa.
O Livro Mordida Não Napoleão (clique no título para baixar o PDF) fala de um menino que descobre a própria boca. Ao ser mordido pelo seu cachorro pequenino, percebe que a boca pode também machucar. A história sugere paradas ao longo do enredo com perguntas que colocam a turminha para pensar e falar.
Você pode imprimir as imagens, montar o livrinho e ler para as crianças. Também pode imprimir versões menores para deixar à disposição dos pequenos nos cantos de leitura. Desse modo, a história e o contexto passarão a fazer parte do acervo intelectual da turma.
Bom proveito!
Uma parada para pensar: 5 reflexões sobre ser professor
Mediação, produto, processo, brincadeira e conhecimento de mundo. Estes são conceitos que recheiam os livros de pedagogia e as formações. Sabemos o que eles significam? Pensamos nesses conceitos na prática diária?
Convidamos você para fazer uma parada! Stop! Vamos refletir? Vamos fazer uma parada para pensar.
Reflexão… uma palavra tão presente! Falamos muito sobre ela mas nem sempre caminhamos pelos seus significados.
- Na Psicologia, refletir significa pensar sobre um tema.
- Na Física, refletir é mudar de direção (percebemos isso quando mergulhamos metade de uma varinha numa piscina e vemos sua imagem distorcida).
- Para a Matemática, a reflexão está relacionada a uma transformação geométrica.
- Para os Programadores, reflexão é a capacidade de um programa observar ou modificar a sua estrutura
Uma “parada para pensar” que abraça todas essas ações, pode produzir transformações e novos comportamentos. Propomos uma jornada com 5 pontos de parada para se observar, pensar, mudar de direção e transformar estruturas.
Palavra de… Monica Ehrenberg: a criança não tem um corpo, ela é um corpo
Para a professora de Educação Física e doutora em Educação, Monica C. Ehrenberg, a criança não tem um corpo, ela é um corpo. Pensar na criança como um indivíduo, é entender que ela é um conjunto de capacidades motoras, cognitivas, sociais e culturais. E, portanto, ela tem uma história que não é menor, mas diferente da nossa. Conhecer e compreender isso favorece o trabalho adequado ao desenvolvimento dos pequenos, em todos os aspectos.
Nesse sentido, o olhar para as crianças precisa partir do olhar que temos para nós mesmos.
Tem criança que não gosta de dar a mão para um tal colega, que não curte tirar o sapato ou não se sente confortável em sentar de índio. Será que todos os adultos gostariam de dar mão para qualquer pessoa numa roda? Todos nós nos sentimos bem sentando de índio? Não temos nossas preferências individuais?
E a limpeza dos narizes? Já pensou se alguém limpar o seu nariz da mesma forma com que passamos o papel no nariz dos pequenos?
Pensar em questões como essas é trabalhar o olhar respeitoso. É não esquecer que a criança é um sujeito.
Um acervo de ideias para reinventar o Desenho
Para as crianças, o desenho é brincadeira, desafio e prazer com os próprios movimentos. Mais tarde, as marcas também são valorizadas.
Para que essa brincadeira continue e seja ampliada é preciso desenhar sempre e, em especial, pensar em alargar os desafios.
O que interfere no desenho e o que pode variar os desafios?
Para a neurocientista mineira Leonor Bezerra, o cérebro das crianças está no início do seu desenvolvimento. Nesse momento é ideal provocar diversas áreas cerebrais com estímulos multissensoriais, isso é, que obriguem a criança a sentir e usar vários órgãos dos sentidos ao mesmo tempo. Assim, o ato de desenhar, que já se mostrou importantíssimo para favorecer a expressividade e as narrativas, também ganha pontos com os estímulos motores e proprioceptivos* associados às emoções e sensações. Quando propomos desafios mais amplos para os pequenos, bombardeamos [no bom sentido] diferentes áreas cerebrais ao mesmo tempo. Com isso, o cérebro desenvolve conexões nervosas mais abrangentes e complexas. Aprender é assumir novos comportamentos e atitudes.
Um roteiro para sonhar e planejar
Atuar com previsão, organização e preparo favorece uma atmosfera mais tranquila e o olhar antenado nas pesquisas das crianças. Fazer um planejamento cuidadoso e atento às demandas e desejos expressos pelas crianças é um passo para conquistar situações como essa. E um roteiro para planejar pode ajudar a exercitar o ato de planejar.
Para Madalena Freire, reconhecer os limites do contexto e da atuação do professor revela os caminhos do planejamento. São os próprios limites em sintonia com a realidade:
- O que é possível fazer?
- Quais os saberes e potencialidades que reconheço no grupo?
- Quais desafios são adequados à faixa etária e a este grupo?
- O que eu já sei e o que preciso pesquisar?
Madalena ainda fala sobre a liberdade, e talvez uma certa leveza, para atuar quando existe organização e disciplina do educador que “organiza, delimita e direciona a liberdade” de si e do grupo. Assim, pensar no planejamento envolve duvidar, perguntar e se questionar. Que tal experimentar um roteiro de planejamento que busque estruturar sua atuação e as conquistas das crianças?
O que o Desenho nos conta?
Crianças escolhem desenhar. Em diversas culturas, desenhar é uma atividade típica da infância. Ao observar os pequenos desenhando é comum perceber que todo o corpo está envolvido na ação. Os rabiscos fluem de mãozinhas que voam sobre o suporte, deixando suas marcas. Às vezes as crianças desenham sem mesmo acompanhar a ação com o olhar, fazendo parecer que os rabiscos são marcas ocasionais e sem sentido…. Ledo engano! Muita coisa está acontecendo porque nesses momentos elas usam seu cérebro de forma complexa e dedicam emoções à ação que fica expressa no suporte.
Crianças podem rabiscar desde que consigam segurar um riscador (qualquer objeto como gravetos, carvão, tijolos ou mesmo batons…) e coordenar seus movimentos o suficiente para deixar marcas. Mas é por volta dos 18 meses que elas se interessam de fato por rabiscar. Para Piaget, as crianças desenham o que sabem e não o que veem. O estudioso do desenho infantil G. H. Luquet, dizia que a criança desenha para se divertir e é para ela uma brincadeira como outra qualquer. Mais especificamente, uma brincadeira que pode ser brincada a sós, em espaços fechados ou ao ar livre.