Postura do Professor

O Blog Tempo de Creche conversou com a psicóloga Beatriz Ferraz sobre a nova Base Nacional Comum Curricular Educação Infantil. Beatriz participou do grupo de especialistas que escreveram textos para apoiar a implementação da primeira versão do documento e foi leitora crítica da 3ª versão.

Tempo de Creche O que é a BNCC? Em que ela difere das Diretrizes Nacionais e Referenciais?

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Beatriz – A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento que estabelece um conjunto de noções, habilidades e atitudes que todas as crianças que frequentam a educação infantil têm o direito de aprender. Esse conjunto de aprendizagens estão redigidos como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento e devem ser considerados por todas as escolas do país, sejam elas públicas ou privadas.

O documento da BNCC estabelece um referencial nacional obrigatório que deve ser contemplado no currículo de todas as redes de ensino e instituições escolares, públicas ou privadas.

A partir dessa referência, o exercício das redes e escolas é realizar adequações em suas propostas curriculares e pedagógicas, garantindo que as mesmas estejam considerando as aprendizagens indicadas na BNCC. Nesse aspecto a BNCC se diferencia dos Referenciais Curriculares Nacionais, pois os mesmos não tinham o caráter de obrigatoriedade.

Tempo de Creche – A BNCC dialoga com as Diretrizes?

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Reunimos diversos pensamentos, depoimentos e práticas relacionadas à adaptação das crianças à creche e à pré escola no início do ano letivo. Essa situação geralmente perdura um mês e traz ansiedades e angústias de todos os lados: professores, famílias e crianças. Mas é também uma questão pensada e estudada. Conhecer visões sobre o assunto pode transformar o medo do desconhecido num primeiro passo para atravessar a porta de entrada!

Frato menina

Balão numero 1O primeiro passo na visão de alguns estudiosos

“O momento de visita de uma criança a um local (…) é inaugural, ou seja, ao mesmo tempo, inaugura um novo lugar e inaugura um novo você”.
Coordenadora do Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca, Mila Chiovatto, em depoimento para o Bolg Tempo de Creche (“É preciso olhar o mundo com olhos de criança”. Henri Matisse) 

“Temos que ter o maior cuidado com este primeiro encontro [da criança com o local], o tempo inaugural. É preciso ter profissionais cuidadores do tempo inaugural. É o futuro que está sendo construído. É uma alta responsabilidade”
Luiz Guilherme Vergara, educador, curador e atualmente diretor do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, em depoimento para o Blog Tempo de Creche (“É preciso olhar o mundo com olhos de criança”. Henri Matisse) 

A escola é uma espécie de segunda casa das crianças. Elas vão passar boa parte do dia neste ambiente. Na realidade, a creche e a pré-escola são os primeiros espaços de uma sequência de lugares educativos, são as portas de entrada da vida escolar.

Para as famílias da Educação Infantil o ambiente da instituição é novo e desconhecido. Iniciar a apresentação do local com pais e responsáveis e, depois, deixar para eles a tarefa de conduzir a criança na sua primeira visita, vai assegurar aos pequenos que o local conta com a aprovação da família. Essa ação pode contribuir para:

  • Uma boa relação das crianças com o novo ambiente
  • Familiaridade e integração das famílias com a instituição
  • Construir parceria na adaptação da criança na creche

Em depoimento para o Blog Tempo de Creche, Anelise Csapo, supervisora do Núcleo Educativo da Casa das Rosas (SP),  (Primeiro dia na creche: um olhar novo de tudo) afirma: “Se a gente trabalhar instigando a criança a perceber o espaço como ela vê e como ela vai dispor das coisas, ela vai encontrar o “seu” espaço, ela vai começar a interagir, construir um espaço que seja aconchegante, que tenha acolhimento. Ao mesmo tempo, ela vai estar num momento de aprendizado, ela vai observar e ela vai trocar com outro, para criar uma coisa nova, mesmo que seja por intuição. Diferente de nós que pensamos o espaço como um todo, ela instintivamente vai pela curiosidade, percebendo, construindo o novo e se apropriando”.

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Será que a primeira infância está se tornando um negócio para o mundo, antes mesmo de ser reconhecida como etapa fundamental da educação do ser humano?
Como a sociedade brasileira está lendo a Educação Infantil?
Na mesma semana tivemos uma entrevista com a prêmio Nobel, James Heckman, economista e agora estudioso dos impactos econômicos da educação infantil. A TV paga apresentou um programa dedicado aos negócios lucrativos voltados à primeira infância (Mundo SA, Globo News) .
O que pensar de tudo isso?

Captura de Tela 2017-09-24 às 17.02.07O programa de TV até apresentou produtos interessantes. Mostrou um fabricante de brinquedos para parquinhos, reconhecido pela ONU, que propõe inovações para desafiar as crianças a experimentar novos movimentos, equilíbrio e estratégias para interagir. Outro fabricante desenvolveu jogos que possibilitam adequações para atender crianças especiais.

Mas o que destoou foram os negócios dedicados à “educação” dos pequenos. Sim, educação entre aspas!

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Para Madalena Freire o registro ajuda a sistematizar o pensamento. Mas isso também se aplica às crianças pequenas?
Sim!
Então, como ajudá-las a registrar e elaborar aquilo que estão experimentando?

Bebês a partir de 6 meses podem aprender a segurar riscadores e experimentar fazer as primeiras marcas no suporte. Riscando, rabiscando e brincando, os pequenos vão desenvolvendo o desenho e percebendo que o modo como movimentam os dedos, a mão, o punho, o cotovelo o ombro e o corpo todo, determina a forma das marcas.

Nesse ponto os desafios de brincar de desenhar vão ficando mais complexos e interessantes. Buscar controlar os traços, repeti-los e modificá-los, instiga as crianças a buscarem soluções.

O desenho assim, conquista mais detalhamento.

Os resultados desse desenvolvimento não ficam marcados somente no papel. Aspectos cognitivos são trabalhados e o cérebro aprende a controlar o corpo e usar o desenho como expressão dos pensamentos, emoções e memórias.

É justamente aí que reside o recurso do registro infantil. Como o registro feito por nós, adultos, conquista qualidade à medida em que é praticado.

Registro em desenho Projeto Amiguinha Santa MarinaNo CEI Santa Marina, em São Paulo, as crianças de 3 a 4 anos desenham todos os dias. Nas ocasiões em que as professoras percebem que experiências significativas precisam ser elaboradas e repensadas, toca desenhar!

Experimentaram algo novo?
Entusiasmaram-se com uma história?
Estão trabalhando num projeto?
Precisam pensar sobre um acontecimento?

Mãos no riscador!

É incrível notar a qualidade do desenho dos pequenos do Santa Marina! Crianças que facilmente expressam suas ideias no papel e também oralmente.

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Uma reportagem publicada no último domingo no jornal Estado de São Paulo aborda o tema da relação entre tecnologias e Educação. Referindo-se a crianças um pouco mais velhas, o artigo traduzido da importante revista americana The Economist, aborda os desvios do uso das tecnologias digitais nas escolas, assinalando os problemas do exagero e da falta de propósito, bem como as consequências da falta do seu uso no dia a dia escolar.
Como ficam os pequenos nessa história?

Acredito que na mesma situação!

imagens crianças tecnologia e formigas

Dizem que as crianças de hoje são nativas digitais. Isto que dizer que sabem se conduzir no universo digital da mesma maneira que falam português – a língua mãe. Quando botam a mão num aparelho digital, parece que elas nascem sabendo!

Se não educamos as crianças para um uso apropriado da língua, provavelmente apresentarão dificuldades na sua utilização. Não se expressarão de forma adequada e provavelmente terão problemas para compreender o que é dito e lido.
Tal e qual o universo digital!

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Existe “brincadeira dirigida”?
É comum ouvirmos professores comentado sobre os momentos da rotina em que promovem “brincadeiras dirigidas” ou “brincadeiras livres”. Ambas colocações levam a interpretações não adequadas a respeito da brincadeira na escola.

provocação brincadeira livrea

Afinal, como são pensados essas tais momentos de “brincadeira”?

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Como a organização de atividades evita atropelos? Como mediar para oportunizar experiências e aprendizados e garantir a brincadeira?

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Como ser educador em meio à cena pulsante de crianças vivas e curiosas que seguem seus desejos para apreender o mundo? Como elaborar e organizar planos e propostas na educação Infantil?

texto Planos e propostas

Segundo Madalena Freire, ensinamos e aprendemos a partir do que sabemos, do que tem significado para nós. Os conteúdos que despertam e estimulam, tem que ter sentido para nós e para as crianças nesse jogo de ensino-aprendizagem. Nessa jornada, o educador da Educação Infantil, faz a mediação:

  • Afasta-se para permitir a livre pesquisa e a criação
  • Observa para perceber as descobertas que devem ser valorizadas, as dificuldades e as demandas que as crianças fazem
  • Valoriza as descobertas e as conquistas do desenvolvimento
  • Encaminha, intervindo a partir as demandas das crianças, com propostas de novos materiais, locais e situações de forma a enriquecer ainda mais as aprendizagens obtidas no processo de pesquisa
  • Mantém o ambiente seguro para cuidar do bem-estar

Assim, nessa intermediação, o educador é o mediador no processo de leitura e pesquisa do mundo realizado pelas crianças.

Que tal experimentar esse modo de olhar?

Crianças e educador: uma parceria para desbravar um mundo!

Como conhecer a criança, o grupo e escolher como agir?

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Tapas, empurrões, chutes e puxões de cabelo – como reagir nessas situações? O que fazer? Como entender a agressividade na primeira infância? Veja as reflexões, as dicas e brincadeiras para trabalhar essa questão.

agressividade

No olhar da psicologia, a agressividade que se manifesta nos primeiros anos de vida é um comportamento normal. É uma espécie de reação que ocorre quando a criança está à frente de algum acontecimento que a faz se sentir frágil e insegura.

Assim, na primeira infância é comum as crianças expressarem desejos e frustrações por meio de comportamentos nada polidos e pouco aceitos, causando incômodo em todo o grupo.

Alguns estudos*[1] entendem que a agressividade na Educação Infantil está cada vez mais presente:

  • pela falta de estrutura familiar
  • pela falta da atenção dos pais,
  • pela reprodução de atitudes presenciadas,
  • e nas tentativas de atrair atenção para si.

No ambiente da educação também cabem algumas reflexões:

  • Como a instituição analisa as ações de sua própria equipe com as crianças?
  • Temos consciência de quais atitudes são favoráveis ao aparecimento de frustrações nas crianças?
  • Os educadores trabalham a autonomia das crianças e a construção do respeito pelo outro? Ocorre interação entre crianças de idades diferentes? Como ela é?
  • Quanto a estrutura da rotina e a organização das atividades permitem a expressão e a manifestação dos desejos e estados de espírito das crianças?
  • A turma fica muito restrita às salas? O corpo tem espaço para se movimentar, para experimentar e para interagir?

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Encontramos um relato interessante sobre o desenho infantil na faixa dos 3 a 4 anos, lendo a dissertação de mestrado da professora Vanessa Marques Galvani. Ao refletir sobre registros e produções de duas crianças em particular, a professora buscou apoio no conceito de zona de desenvolvimento proximal de Vygotsky,  planejou intervenções e colheu resultados significativos.

Vanessa estava pesquisando a fotografia como suporte para a elaboração de documentação pedagógica, quando percebeu nos registros fotográficos de sua turma algumas particularidades no desenho de dois de seus alunos. Ela notou que o Artur (nome fictício), apesar de reconhecer algumas partes do rosto humano na sua própria fotografia, ainda não conseguia desenha-las sozinho. Já Clara (nome fictício), tranquilamente demonstrava através de seus desenhos uma figuração mais estruturada.

Exercicio de autoretrato Arthur

A partir da leitura das produções das crianças e dos registros realizados durante os momentos do desenho, Vanessa identificou que Artur conseguia desenhar algumas partes do seu rosto. Mas, em comparação com os desenhos de Clara, ainda faltavam algumas estruturas. Isso indicava que o menino estava numa zona de desenvolvimento proximal no desenho da figura humana. Partindo desse olhar, planejou estratégias pedagógicas para provocar Arthur e promover o desenvolvimento do seu desenho.

Como Vygotsky nos ajuda a entender esse processo?

Para o psicólogo bielorrusso Vygotsky, existem dois níveis de desenvolvimento infantil.

Exercicio de autoretrato ClaraQuando a criança é capaz de realizar uma determinada ação de forma autônoma, sem nenhum auxílio, ela se encontra zona de desenvolvimento real. Este nível é o resultado de processos de aprendizagens já adquiridas e conquistadas pela criança.

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