Coordenador-formador e seus professores-alunos

Coordenador-formador e seus professores-alunos

Na semana que passou Madalena Freire me fez pensar sobre a relação do coordenador e do formador com seus alunos-professores. Numa de suas provocações, ela trouxe uma pergunta que cutucou a cabeça: como o coordenador lida com seu papel de formador e professor de sua equipe de professores? O que ensinar para eles? Como ensinar? Podemos pensar em recursos, formatos e conteúdos, mas fundamentalmente esquecemos de três pilares estruturantes de todo o processo de ensino-aprendizagem: espaço + constância + propostas. Esquecemos de assumir que ensinar traz angustia e aprender dói. Porque só fazemos isso quando estamos incomodados e desejantes de algo que nos faz falta.

É inegável que o coordenador pedagógico, ao gerir sua equipe de acordo com a missão da instituição e o projeto político pedagógico, precisa assumir a função de formador: aquele que de fato ensina um grupo de pessoas com características únicas enquanto grupo e indivíduos. Quando o coordenador não se vê como professor, ele atua como gestor de burocracias e apagador de incêndios. E, certamente, os caminhos do ensinar-aprender da escola não se qualificam como um todo e perdem a personalidade e o contexto.

Ah! Mas tem as paradas pedagógicas mensais! Nos reunimos e colocamos tudo em dia!

Sim e não!

Sim porque esses encontros realmente acontecem sem as crianças e é possível trabalhar diversas questões, inclusive a formação.

Não, porque esse único dia nunca é suficiente! São 6 ou 8 horas para trocar com todos os colegas de equipe, falar sobre materiais, equipamentos, as comemorações, arrumar o espaço e, em muitas ocasiões, receber alguns convidados formadores. Ufa! Cadê o tempo para falar sobre cada criança? O tempo para refletir junto sobre um possível caminho de trabalho? Uma estratégia de ações para desenvolver esse ou aquele aspecto das crianças? Discutir sobre um texto ou uma pesquisa? Fato é que a parada pedagógica não dá conta e ela acontece com intervalos de 30 dias!

2-reuniao-de-grupos

Então, como colocar o papel de coordenador-professor em prática?

Vamos pensar sobre os pilares que a Madalena pontua:

Balão numero 1Espaço

O professor das crianças tem uma sala, certo? E o coordenador, tem um espaço para interagir com sua equipe? É preciso que exista um espaço físico que contenha uma atmosfera de estudo. Um lugar onde, ao entrar, os professores-alunos já mergulham no estudo, nas trocas e na reflexão, com foco e entusiasmo… não com a cabeça vagando em outras preocupações.

Em diversas escolas um espaço dedicado a esses encontros é impossível de manejar. Mas dá-se um jeito! É sempre possível transformar o espaço com alguns “marcadores” que componham a atmosfera: uma bandeja com café e bolachinha, um flipchart e canetas, se não houver onde apoiar o caderno, pode-se levar algumas pranchetas, um notebook para colocar pendrive com os registros de imagem, enfim, pontuar que o momento é diferente e que precisa de um olhar diferenciado.

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Ainda assim, muitas escolas, apesar de disporem do espaço, não dispõem de tempo para tirar o professor da sala para fazer um encontro com a coordenação. Em alguns CEIs da cidade de São Paulo, onde o professor trabalha 8 horas por dia, o local de encontro acaba sendo na sala da turma, enquanto as crianças estão dormindo. Ok, não é o ideal, mas é o que é possível no momento. Então o coordenador pode carregar uma cesta com os “transformadores de espaço”. Levar o café, bolacha, sulfite para pensar escrevendo, as pranchetas e o notebook. Combinar com os professores o horário certinho para chegar na sala e já encontrar os “alunos” sentados no local acertado, com cadernos e registros em mãos.

Balão numero 2Constância

5-reuniao-de-estudoFrequência e rigor, esse é o segredo! Os encontros com os alunos-professores precisam ser nutridos, frequentes e respeitados. Quantas vezes por mês é possível se reunir em pequenos grupos que compõem a equipe pedagógica? Por quanto tempo? Com quantos professores? A partir desse planejamento os encontros precisam ser religiosamente respeitados! Não cabe deixar que os “empecilhos” do dia a dia se transformem em barreiras:

– Ah hoje não vai dar para se reunir porque a mãe do fulano ficou conversando com a coordenadora mais tempo do que o planejado!
– Ah, hoje tá complicado porque o fulano está muito choroso e preciso ficar com ele!
– Ah, hoje não vai ser possível porque estou organizando a proposta da tarde!
Etc., etc., etc.!

Não pode ter desculpa! É sagrado! Coordenador e grupos já estão cientes da rotina e se preparam para o encontro. Isso é rigor. Isso é cumplicidade produtiva.

Balão numero 3Propostas

Coordenadores e formadores frequentemente cobram de sua equipe planejamentos, registros reflexivos e documentação sobre as crianças, seus desenvolvimentos e aprendizagens. Mas… fazem o mesmo com seus professores-alunos?

Todos os encontros com a equipe precisam de um planejamento:

  • 3-registro-de-reuniaoPauta X tempo – de quanto tempo é o encontro? 30, 40 minutos, uma hora? O que vai acontecer nos primeiros 10 minutos? E em seguida? Como vamos finalizar? Quando discutir a tarefa que ficou designada para o encontro? (texto, reflexão, observação, pesquisa de materiais e recursos etc.). Qual será a tarefa para o próximo encontro? Desse modo, uma pauta planejada é imprescindível para organizar o tempo e adequar o que precisa ser trabalhado com a equipe. Ao mesmo tempo, a pauta precisa estar em harmonia com o grupo para ser significativa. Assim, pauta e tempo precisam estar de braços dados e o grupo faz parte de sua construção.
  • Estrutura do encontro – Como vou colocar os professores em sintonia com o encontro? Que tal uma pergunta para despertar, selecionar um texto, ou até mesmo o trecho de um texto provocador?
    Como resgatar o último encontro? Retomar os registros, trazer algo de importante que foi mencionado por um dos participantes ou mostrar uma das imagens observadas.
  • Quanto tempo é necessário para trabalhar a questão principal? Como preparar esse andamento para que caiba dentro dos recursos disponíveis?
  • Como encerrar, fechando o que foi discutido e preparando a pauta para a próxima vez?

Finalmente, como professor, o coordenador também precisa registrar seus encontros formativos e refletir sobre o que aconteceu em sua prática… como é exigido da sua equipe pedagógica! O coordenador também precisa dos instrumentos metodológicos para observar os grupos, refletir sobre o que registrou, avaliar suas ações e preparar o planejamento para o próximo encontro. E não adianta pensar que tem memória de elefante e que não esquece o que aconteceu! Esse movimento de registro-reflexão-planejamento não é só uma questão de memória! No momento em que o professor retoma suas notas e materiais para revisitar o vivido é que faz de fato uma reflexão. E, somente a partir desse movimento, o coordenador pode encaminhar o andamento dos encontros de forma produtiva.

Não existe uma fórmula, mas alguns caminhos podem ajudar a pensar num jeito que se adapte ao contexto, ao coordenador e ao grupo. E aproveitar cada minuto de oportunidade para que todos possam se entusiasmar com o aprendizado… de professores e crianças!

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Balão Para Saber Maiseducador-educa-a-dor Recomendamos o livro Educador educa a dor de Madalena Freire como um tratado básico de educação. É nosso livro de cabeceira! – Editora Paz e Terra

→ Leia mais sobre coordenação e organização de encontros formativos nas postagens:

 

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