As relações humanas são tão naturais que acontecem mesmo que não se troque nenhuma palavra. O ser humano é todo relação: qualquer sensação que detectamos a partir de outros seres humanos, nos provoca emoção e estabelece relações. Passamos informações através do nosso rosto, da roupa que usamos, do cheiro, da postura e obviamente das palavras. E, com essa bagagem, travamos as nossas relações.
Para o filósofo Vilém Flusser* as diferenças fazem parte da existência humana e ajudam a gerar mais conhecimento. Nesse contexto, as pedagogas Tania Fukemann Landau e Lena Bartman Marko escreveram diálogos sobre as relações envolvidas no ambiente das creches e instituições de educação. São sete capítulos para refletir e inspirar as ações dessa delicada relação e as possibilidades de construir um ambiente favorável ao desenvolvimento e educação das crianças e das comunidades abrangidas pela instituição.
1. CONSTRUINDO DIÁLOGO E APOIO ENTRE FAMÍLIA E CRECHE
Quando uma criança entra na escola ela vem com o “pacote inteiro” – traz consigo uma história, uma família e um modo peculiar de ser, viver e se relacionar que vem ancorado na sua experiência pessoal e doméstica, pois cada indivíduo e cada família é de um jeito, tem seus hábitos, tradições e costumes.
De modo geral, a família se alterou. Avós, tios e vizinhos não tem mais composto a vida cotidiana do arranjo familiar, assim, os espaços de troca e convívio tornaram-se escassos e os pais não sabem muito com quem podem contar em caso de necessidade, quando precisam de apoio ou de algum esclarecimento para suas dúvidas e incertezas. A correria do dia a dia invadiu as casas e transformou a relação com os filhos.
A escola hoje, tornou-se um espaço potencial de troca e crescimento mutuo, onde os pais podem conversar e refletir sobre a infância de seus filhos e a escola pode observar e conhecer os pais e aprender com eles. E, neste sentido ela precisa criar um ambiente acolhedor que inspire e propague confiança.
Uma criança ao nascer precisa de um adulto dedicado que se preocupe com ela:
- que reconheça e interprete suas necessidades,
- que compreenda suas múltiplas maneiras de expressão,
- que garanta tempo e espaço para ela brincar,
- ofereça aconchego e acolhimento
- e siga proporcionando-lhe estímulos e condições de ambiente e vínculo favoráveis para ela se desenvolver e crescer saudável.
Ou seja, a criança precisa de cuidados ajustados às suas necessidades:
- físicas,
- afetivas,
- cognitivas
- e sociais.
O cuidado não é um ato mecânico, não se restringe a trocar fraldas, dar o banho e alimentar. O cuidado pressupõe vínculo, afeto, confiança, garantia de integridade física, mas também incentivo e escuta para a curiosidade e a criatividade da criança.
Hoje é sabido que crianças e bebês precisam muito das referências da família, mas também aprendem com outras crianças e adultos e podem se beneficiar das trocas estabelecidas com eles, possuem capacidade para ampliação de laços afetivos e de convívio em espaços coletivos.
O ambiente das creches precisa ser pensado e planejado para acolher as crianças e suas famílias, pois neste segmento da educação não é possível pensar em ações educativas saudáveis que não estabeleçam diálogos com todos os envolvidos nos percursos de vida da criança. É preciso manter uma certa dose de coerência e harmonia nos cuidados oferecidos à criança em casa e na creche.
Esta premissa fica muito evidente quando pensamos, por exemplo, no momento do desfralde. Quando isto ocorre em comum acordo entre pais, escola e criança o processo tende a ser mais rápido e tranquilo, caso contrário, sabemos o quanto pode se tornar árduo e custoso para todos, principalmente para a criança que ora está de fralda, ora sem, sem saber como deve proceder.
É comum ter pais que culpam a escola por algumas dificuldades enfrentadas com os filhos, dizem que a criança não dorme a noite porque dormiu muito na escola, que aprendeu a falar palavrões com algum amiguinho ou que chega mordido em casa porque tem muita criança no grupo ou porque a professora não cuida. Construir um diálogo livre de acusações de ambas as partes e lidar com estas e outras demandas não é fácil, mas inevitável e necessário.
Outros capítulos do Diálogo sobre relações famílias e creches unidas serão publicados nas próximas semanas. Veja abaixo:
2. CRECHES E FAMÍLIAS: UMA PARCERIA DE ESCUTA 3. APROFUNDANDO O DIÁLOGO 4. RELAÇÕES EM AÇÃO: REUNIÃO DE PAIS 5. RELAÇÕES EM AÇÃO: CADERNOS DE COMUNICADOS 6. RELAÇÕES EM AÇÃO: CONTATOS DE PORTA E PRIMEIROS DIAS NA ESCOLA 7. RELAÇÕES EM AÇÃO: ENCONTROS CULTURAIS E FESTIVOS * filósofo tcheco naturalizado brasileiro
Alguns livros infantis sobre o desfralde.
Autoras
Lena Bartman Marko, pedagoga formada pela USP, terapeuta de família pelo ITF SP, especialista em psicanálise pelo Sedes Sapientiae. Fundadora e Diretora da CONVERSO – Assessoria Pedagógica. Foi coordenadora, diretora e sócia-fundadora da Escola Ibeji e atuou como diretora pedagógica no Instituto Alana. Fundou os respectivos centros de formação de professores.
Tania Fukelmann Landau, pedagoga pela PUC-SP e especialista em Educação Lúdica pelo ISEVEC. Fundadora e Diretora da CONVERSO – Assessoria Pedagógica. Colaboradora em projetos e publicação da Fundação ABRINQ. Membro da diretoria da Casa do Povo (instituição cultural). Atualmente dedica- se integralmente a formação continuada de educadores e aos estudos sobre a infância.
Muito obrigada por vocês compartilharem textos riquíssimos de grande valia para o meu trabalho como coordenadora de uma creche.
Que bomque pode aproveitar! Obrigada, abraços, Tânia
Gostei muito deste texto. Aproveitaremos o tema para trabalharmos em nossa próxima reunião de pais, onde iniciaremos o plano de ação para os indicadores de qualidade. Parabéns a toda equipe pelos excelentes posts e indicações para nós educadores e diretores de Creche.
Obrigada, Andrea, pelo seu frequente contato. Ficamos contentes em contribuir para os vários momentos do trabalho. Estamos à disposição para qualquer dúvida ou ampliação de algum tema de interesse. Grande abraço
Obrigada Andrea! Por favor envie, sempre que puder, seus comentários, questões e depoimentos. Nosso trabalho fica muito melhor quando conhecemos de perto as múltiplas realidades e quando podemos atender e refletir sobre as demandas vindas da pratica dos educadores e do dia a dia com as crianças. Abraços, Tânia