O Começo da Vida: um filme sobre infância para encantar e refletir

O Começo da Vida: um filme sobre infância para encantar e refletir

BebêO que a ciência nos fala sobre a importância dos primeiros 1000 dias do ser humano? Como são os laços de amor e cuidado em torno das crianças da nossa sociedade? Não perca a oportunidade de se apaixonar, se informar, sorrir e chorar com o documentário O Começo da Vida. Aproveite as reflexões da Claudia Siqueira, diretora do Instituto Sidarta, e da equipe do Tempo de Creche, para despertar, discutir e se aprofundar sobre os conteúdos do filme.

Participamos de um “cine debate” sobre o filme O Começo da Vida, a convite do Instituto Sidarta, em Cotia, SP. O sensível filme da diretora Estela Renner nos atravessa. Nas falas de pais, especialistas em Neurociências, economistas, jornalistas, educadores e pesquisadores da Infância, a poesia enche o coração e toca fundo na vontade de refletir e repensar as nossas relações com as crianças até os 1000 dias.

Mãe e filhoNuma iniciativa do Projeto Selo Cidadão da Revista Circuito, do Cineflix e do Instituto Sidarta, 150 educadores de creches da rede municipal de Carapicuíba, cidades vizinhas e pais e familiares dos alunos do Colégio Sidarta compareceram a uma seção calorosa de cinema, numa sexta-feira pela manhã.

O filme começou e o encantamento tomou conta da sala. A música embalou o conteúdo atualizado e pertinente sobre o desenvolvimento das crianças a partir do momento em que nascem, até os 3 anos de idade. Numa rede alinhavada pela diretora, o filme levanta questões importantes para pensar sobre a nossa concepção de criança, desenvolvimento, aprendizagem e laços entre escola, famílias e sociedade.

Claudia Siqueira, diretora do Sidarta, traduziu o clima do evento: os educadores? Não tiravam os olhos da tela, vibraram e comentaram. Muitos olhos marejados em cenas que tocavam a alma e à medida que o filme chegava ao seu desfecho, a sala de cinema se tornava uma grande sala de HTPC, pois muitos já comentavam como poderiam alterar sua prática para dar mais aos seus alunos!! Eram propostas, gestos, articulações que começaram ali talvez de uma forma tímida, mas que ao final, ganharam corpo, pois a alma o filme tinha tocado!

Video CampSe você ainda não assistiu O Começo da Vida, ele está disponível gratuitamente na plataforma Video Camp e no NETFLIX. Se você já assistiu, garantimos que rever o filme com companhia para conversar e debater vai revelar novos detalhes e fazer crescer novas ideias.

Destacamos aqui alguns pontos levantados pela Claudia Siqueira e por Joyce Rosset e Angela Rizzi, do Tempo de Creche, na roda de conversa que aconteceu no final da seção.

Os destaques da Claudia…

O FILME EM ALGUMAS FRASES:

  • O filme fala que são mais de 30 anos de pesquisas
  • Patricia KuhlQue os bebês são ultra sensíveis, que são verdadeiras máquinas de aprender
  • São os melhores cientistas do Mundo, assim eles precisam de ambientes que propiciem a exploração.
  • Bebês criam hipóteses e as testam o tempo todo.
  • Os bebês tem alta autoestima, o que os ajudam a fazer coisas novas o tempo todo, são campeões em ousadia.
  • Deixar o bebê livre para explorar é diferente de deixá-lo largado, em um espaço sem opções e sem recursos.
  • O bebê aprende conosco e quando percebe que temos um interesse genuíno por ele… aprende muito mais!
  • Os bebês são os grandes inovadores do Mundo.
  • O afeto é a fita isolante entre os neurônios. (lindo, né?)
  • Simon KuperQualidade da interação: a importância do bate bola entre a criança e o adulto (é o diálogo que ouve e devolve respostas consistentes. São as conversas focadas, sinceras e desafiadoras com bebês e crianças). Este exercício ajuda no desenvolvimento do cérebro.
  • A mãe é a primeira mostra de humanidade que a criança recebe. (sensacional!)
  • Como podemos falar de bem-aventurança quando o começo da vida não é levado a sério?
  • Alguém que “ajuda” é alguém que quebra galho, que a responsabilidade está no outro. Quando alguém “participa”, está compartilhando a responsabilidade.
  • Vínculo – que se dá no presente, no cotidiano.
  • A brincadeira é o melhor veículo de aprendizagem.
  • Sempre construir contextos interessantes: papel do professor
  • Leia AmbwayaSe você não ouve as crianças, você perde!
  • Dado absurdo sobre a NÃO equidade (não igualdade de condições entre todas as crianças da sociedade): uma criança que nasce nas classes C ou D ouve 30 milhões de palavras a menos do que uma criança de classe A ou B. (dados UNICEF)
  • Reflexão: o que uma palavra custa como interação? Nada! Absolutamente nada! Mas provoca diferenças significativas!
  • A importância da parentalidade: pauta pouco explorada na Educação
  • Se mudarmos o começo da história, mudaremos a história toda! – quer melhor resumo que este?

Vera Cordeiro

As reflexões da Joyce e da Angela…

1-    BEBÊS NÃO AGEM ALEATORIAMENTE, ELES TÊM INTENSÃO!

Bebês, desde que nascem, mesmo sem todas as habilidades amadurecidas, agem com propósito! Eles não estão de bobeira para a vida, eles estão de brincadeira! Mas o que os pesquisadores nos confirmaram é que BRINCADEIRA É COISA SÉRIA!

Portanto, isso muda a forma como vemos e nos relacionamos com eles! Porque , na verdade, seus gestos, mesmo que limitados, estão procurando fazer e DIZER algo. E não existe coisa pior do que falar para pessoas que não querem te ouvir! Então precisamos CON-SIDERAR os pequenos (“Siderar” de sideral, UNIVERSO) e colocá-los no nosso universo, observando e respondendo, dialogando.

2-    NEUROCIÊNCIA

Jack ShonkoffNa voz de especialistas de diversas áreas ouvimos que as crianças até os 1000 dias são As melhores máquinas de aprender! …. Então concluímos: SOMOS OS EDUCADORES DOS MELHORES ALUNOS!

Somos pais e professores privilegiados e com enormes responsabilidades!

Então, vamos olhar para o mundo e dizer: não somos os soldados rasos da Educação! Ao contrário do que a sociedade pensa, ou mesmo da imagem que alguns de nós tem de si próprio, professores de Educação Infantil também precisam ser especiais para poder acompanhar os cérebros que se desenvolvem com velocidade incrível. Ter a capacidade de acompanhar crianças que querem descobrir e pesquisar o mundo com criatividade e inovação. Seres que nos sugerem hipóteses e explicações que nos surpreendem e balançam!

Muitas dessas hipóteses estão nas publicações que o Sidarta faz todos os anos com os registros das falas das crianças da Educação Infantil. Um projeto que envolve professores e famílias, num mutirão para registrar o pensamento legítimo das crianças (leia sobre esse projeto na postagem Palavra de… Claudia Siqueira: um projeto que escuta as crianças).

3-    UM ATRAVESSAMENTO!

Parece que a pele fica sensível para os assuntos que esse filme traz. Além do conteúdo, se trata da arte do cinema que nos toca fundo. E assim, saímos da exibição querendo lembrar de tudo… não esquecer jamais!

Mas, diferente dos computadores, nossa memória não é perene! Precisamos utilizar alguns recursos para ressignificar e fixar aquilo que mais nos tocou, que nos atravessou: precisamos refletir.

A proposta é: vamos pensar nos pontos que mais marcaram, que emocionaram e que incomodaram.

Depois, se pergunte: por que essas questões nos marcaram? O que (ou o quêS) já está dando comichão de fazer, de por em prática? O que podemos testar ou exercitar?

4-    REFLEXÃO

Vera IaconelliRefletir é se questionar. Assim, para terminar, deixamos algumas perguntas para ajudar no exercício de refletir sobre O Começo da Vida:

Nós, que educamos seres humanos extraordinários, estamos prestando atenção naquilo que eles querem dizer? 

Desde cedo as crianças sentem EMPATIA pelas pessoas, pelos animais, pelos objetos… por tudo o que existe. Elas se colocam no lugar do outro para sentir e entender o que esse outro está pensando. E nós, temos exercitado a EMPATIA com os nossos pequenos? Temos buscado compreender o que eles estão pesquisando?

Estamos fazendo coisas POR ELES ou COM ELES?

Estamos agindo no TEMPO DA CRIANÇA ou no TEMPO DO RELÓGIO?

As perguntas da Claudia…

  1. Estamos deixando nossos “pequenos” livres para explorar, sem negligenciar ou abandonar?
  2. A pior forma de abandono, é estar “presente” sem estar. Como você analisa esta afirmação?
  3. Eu escolhi trabalhar na creche ou é apenas um degrau na minha carreira?
  4. Como posso interagir intencionalmente e regularmente com “minhas” crianças?
  5. Parentalidade – o desafio da articulação família e escola em defesa da criança?
  6. Quanto o filme provocou repensar a minha prática?
  7. Julgar a família é mais fácil que acolher?
  8. Quais dados de pesquisa o documentário trouxe que eu não tinha nem ideia e muito menos compreensão do impacto?
  9. Como fazer para compartilhar o conhecimento que ganhei com este filme com outros grupos de cuidadores da criança? Família, posto de saúde, comunidade do entorno, funcionários da creche…

Para Claudia, o documentário dá voz e propõe de uma forma extremamente sensível para o diálogo da sociedade com o nascimento de uma criança, de um cidadão, de alguém que, ao receber os cuidados adequados, terá mais chances de ajudar o Mundo a ser um lugar melhor para outras crianças!
São mães, pais, cuidadores que narram com emoção a trajetória que se inicia e que gera tensões, neuras, buscas, questionamentos, dor, medo, mas também muita alegria, a cada olhar correspondido. Os avanços de perninhas e braços que ganham força e vencem a longa distância de um braço ao outro do sofá da sala em uma aventura sem tamanho. Obrigada Estela (diretora do filme), por nos proporcionar tamanha alegria, reflexão e compreensão sobre um tema pouco explorado e de um valor indiscutível.

Deixamos, então, uma última pergunta e talvez a mais importante: estamos nos ENCANTANDO com a educação de nossas crianças?

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Balão-Para-Saber-Mais

Estela Renner Estela Renner é diretora, roteirista e co-fundadora da Maria Farinha Filmes. Além de dirigir O Começo da Vida, é também produtora de diversos documentários, como Tarja Branca, um manifesto a importância de continuar sustentando um espírito lúdico, que surge em nossa infância e que o sistema nos impele a abandonar em nossa vida adulta e do Território do Brincar, que propõe um passeio pela geografia de gestos infantis que habitam brincadeiras de diversas regiões brasileiras.

→ Leia mais sobre filmes interessantes para a formação de professores e paradas pedagógicas nas postagens:

6 comments

ME AJUDOU MUITO. JÁ HAVIA ASSISTIDO O FILME MAS COM OUTRO OLHAR.
PRETENDO TRABALHAR A CONCEPÇÃO DE CRIANÇA DENTRO DO BNCC, UTILIZANDO ESSE FILME COM AS PROFESSORAS E SUAS QUESTOES. OBRIGADA PELA AJUDA

As férias acabaram. No retorno, quero trabalhar com os professores da Ed.Infantil esse filme.
O mesmo possui muitos significados desse período de desenvolvimento da criança pequena,acredito que será um Rever daquilo que sabemos, esquecemos e precisamos rever sempre.
Obrigada pela postagem, dicas e leitura significativa.
Dalva

Creio que hoje , encontrei um porto seguro para me auxiliar no meu dia a dia na escola. sou supervisora pedagógica da educação infantil em meu município, estive afastada por mais de um ano por saúde e agora voltei e é como se fosse o início…. faço a parte de formação com as coordenadoras e sempre falam da dificuldade das palavras dos livros teóricos e aqui encontrei um excelente material de estudo e fácil de entender… parabéns pelo lindo trabalho e vcs me ajudam e ajudarão o meu retorno ao trabalho… obrigada!!!

Não vi o filme, mas fiquei encantada com o que já li, tenho certeza que poderei instruir muitos professores com esse assunto.

Marli,
Obrigada pelo retorno.
Procure assistir o filme com sua equipe para se maravilhar e discutir. Vai ser muito gostoso e interessante!
O filme está disponível gratuitamente na videocamp (online) para um mínimo de 5 pessoas. É só entrar no site e se inscrever.
Abraços

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