O desenho é um pilar do trabalho com a infância. Desenhando a criança mobiliza tantos processos cognitivos e motores que a atividade, lúdica e prazerosa, favorece desenvolvimentos e ainda dá pistas deles para os educadores.
No post Repetir propostas para crianças. Será? Falamos sobre a repetição de atividades, destacando o desenho. Ao repetir o ato de desenhar a criança evolui as marcas que aprende a fazer. Lowenfeld, Piaget, Vygotsky e Luquet estudaram esse desenvolvimento e o consideraram como marcas do amadurecimento da criança.
Segundo Lowenfeld, a criança inicia o processo de desenhar fazendo garatujas ou rabiscos de forma desordenada. Em seguida, os rabiscos vão se ordenando. A prática desse rabiscar encaminha a criança para fazer formas. As formas vão gerando as figuras humanas que são constituídas basicamente por cabeças redondas e membros que se originam dela. Essas figuras, ao longo das repetições, vão adquirindo mais detalhes e o desenho passa a evoluir na composição também.
Esses estudiosos do grafismo infantil, sem exceção, reconhecem a existência de determinadas fases, etapas ou períodos que são comuns aos sujeitos em processo de apropriação do desenho como sistema de representação.
Como incentivar e favorecer esse processo?
O ato de desenhar pode acontecer com variações que devem contribuir para a sua própria evolução. Combinações de com o que se desenha (os riscadores) com onde se desenha (os suportes) podem conferir ampliação e desafio aos processos.
- giz de cera
- giz de lousa
- lápis de cor
- lápis grafite
- pedaços de carvão
- terra
- tintas
- pincéis
- palitos
- dedos das mãos e dos pés
- Etc., etc., etc.
- papel
- papel ondulado
- cartolina
- lixa de parede
- vidro
- azulejo
- espuma de sabão
- areia
- solo
- tecidos
- chão (com papel)
- parede (com papel)
- o ar
- Etc., etc., etc…
A combinação desses elementos favorece as oportunidades de desenvolver a motricidade e o cognitivo relacionado ao ato de desenhar. É controlar os movimentos do riscador que está na mão sobre a qualidade do suporte, apreender a olhar, desenvolver a ordenação de ideias e caminhar para um raciocínio de espacialidade e simbologia daquilo que se quer produzir. A linguagem do desenho no grafismo infantil é um sistema de representação complexo, no qual se desenvolve a percepção de mundo, a fantasia, a criatividade, as formas de expressão, a imaginação e se registram as experiências e as emoções.
É possível pensar nas variantes que as combinações de riscadores e suportes podem provocar?
E o que pensar das histórias que nasceram com este desenhar?
No Ateliê Carambola, a pré-escola de São Paulo dirigida pela pedagoga e estudiosa Josiane Del Corso, o desenho é visto como uma linguagem que expressa pensamento: na criança pequena o movimento é a gênese do pensamento. O movimento que nasce da ação, do desejo da descoberta, do prazer do movimento, que revela um corpo em formação (…) e que precisa estar inteiro nos processos inaugurais da infância. Crescer deixa marca. A infância desenha seu processo, deixa suas marcas, marcas do gesto (Professora Viviane Cukier).
No trabalho da Carambola se valoriza a experiência de desenhar com o corpo todo, em grandes suportes, como folhas de papel de rolo ou emendadas. No chão ou pendurados na parede, os suportes podem permitir e abrigar os movimentos do corpo que se debruça sobre os papeis e acompanha o riscar das mãos. São pernas que abrem e fecham no ritmo dos riscos, são balanços de cabeça, de cintura e dos pezinhos que participam do intenso processo.
O olhar do Tempo de Creche sugere que os educadores observem, leiam os desejos das suas crianças, permitam as interações do corpo e deixem a imaginação agir para combinar suportes e riscadores e repetir o ato de desenhar ao longo da educação da infância.
As fotos desse post foram incluídas para inspirar atividades de desenho que repetem o ato e também o desafiam.
Leia também Desenhar, desenhar, desenhar… todos os dias!; Afinal, o que é Arte na Educação Infantil?; O que a criança faz a cada etapa do desenvolvimento; Repetir propostas para criança. Será? Josiane Del Corso: o fazer das crianças e as múltiplas linguagens.
- Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil de Edith DERDYK. (São Paulo: Scipione, 1989).
- Arte Infantil de G. H. LUQUET (Lisboa: Companhia Editora do Minho, 1969).
- A formação dos símbolos na criança de J. PIAGET (PUF, 1948).
- Desenho & escrita como sistema de representação de Analice Dutra PILLAR.(Porto Alegre: Artes Médicas, 1996).
Lindo…maravilhoso
Adorei esse texto!
Gosto muito de trabalhar com garatujas. Elas desenvolvem coordenação e criatividade das crianças, além de serem reveladoras para avaliar a aprendizagem dos pequenos…
#Parabéns e #Obrigado pelas dicas.
Elas são valiosas para o nosso trabalho em sala de aula!!
amei essa postagem! estou estudando sobre desenhos para o meu tcc ano que vem. se puderem me ajudar com qualquer dicas de leitura ou outros documentários sobre, ficarei muito agradecida. bjos.
Texto excelente inclusive as etapas. Muito bom
Cristina,
Obrigada pelo retorno.
Estamos abertas para dúvidas e sugestões.
Grande abraço!
Texto muito bom,sobre o desenho na educação infantil e anos posteriores,mas o início tem como base iniciando pelas garatujas,é através do desenho que a criança expressa seus sentimentos.`