Experiência de leitor: uma aventura com macarrão

Experiência de leitor: uma aventura com macarrão

Já imaginou poder mexer no prato de macarrão, brincar com as massas e ainda colocar “molhos” de cores diferentes? Essa foi a proposta de atividade da Creche Fraterno, SBC, SP, para um dia de sol luminoso, com crianças de 18 meses.

Fraterno 6A leitora Rosangela L. Gonçalves, coordenadora da Fraterno, nos convidou para conhecer a página da creche no Facebook. Exploramos os registros publicados e descobrimos imagens de bebês de fralda brincando com macarrões de todas as formas e cores. Então pedimos para a equipe para compartilhar essa brincadeira esperta!

As professoras trabalharam a mesma atividade no semestre anterior com as crianças mais jovens. Com o desenvolvimento das capacidades e o amadurecimento da turma, a professora Michelle C. B. Ogêda percebeu que poderia apresentar os materiais novamente e favorecer novas oportunidades de pesquisa mais ampliada.

Nas primeiras fotos dos registros vemos o cuidado na organização do material e no aproveitamento da extensão do espaço para favorecer a movimentação das crianças.

Proposta: CONHCENDO A TEXTURA DO MACARRÃO

O PREVISTO – Planejamento

Experiências oferecidas às crianças:

  • IMG_7925Observar, explorar, reconhecer e manipular as diversas formas, texturas e cores do macarrão: espaguete, parafuso, gravata – crus e cozidos.
  • Ampliar as experiências sensoriais, expressivas e corporais a partir das sensações provocadas pelo material.
  • Coordenação motora a partir da manipulação do macarrão e dos utensílios como bacias e colheres, interação e socialização com o grupo.
  • Permitir a livre movimentação das crianças com respeito pelos ritmos e desejos individuais, favorecendo a ampliação da expressão individual.
  • Promover momentos com participação das crianças na arrumação dos espaços e materiais para a atividade.
  • Pauta de observação do educador para observar e registrar o envolvimento das crianças e encaminhar a avaliação da proposta realizada:
    ♦ Observar o envolvimento das crianças durante a experiência.
    ♦ Interagir para aguçar a curiosidade para que crie suas próprias formas de explorar, num ambiente acolhedor e propício às aprendizagens.
    ♦ Colher informações para a Avaliação por meio de: filmagem e registro das observações, com interações e intervenções.

→ Organização do espaço e dos materiais:
Espaço organizado em dois ambientes com macarrões cozidos e crus, colocados em recipientes, diferentes colheres, bacias vazias e escorregares de macarrão dispostos, sobre dois suportes plástico bolha e papel Kraft.

  • Suportes: plástico bolha e papel kraft para sensibilizarem os pés de forma diferente
  • Bacias e escorredores de macarrão, de plástico e de metal, em tamanhos diversos
  • Colheres plásticas com formatos e tamanhos variados
  • Macarrões em 3 formatos (espaguete, fusili e gravatinha), cozidos e crus
  • Corantes alimentícios (com as professoras)

O OCORRIDO – leitura dos Registros

As crianças entraram no pátio e foram se aproximando dos materiais. Os barulhinhos do plástico bolha estourando deram um tom teatral para o inicio. Alguns pequenos chegaram segurando nas mãos das professoras, que apontavam os materiais fazendo comentários curtos e provocadores: olha que legal! Você pode mexer! Olha que durinho!

Fraterno 1

Os dois espaços foram sendo ocupados. As massas molinhas chamaram mais atenção. O espaço propositor logo conquistou as crianças e inspirou para que escolhessem entre as diferentes colheres e bacias.

Fraterno 2

Fraterno 4Começaram a brincar e pesquisar conteúdo e continente e transferências. Alguns levaram as massas à boca mas não gostaram do sabor! Brincaram lado a lado, às vezes duas ou três crianças dividindo a mesma bacia, revelando que estão acostumados à presença um do outro.

 

Alguns pequenos pegavam um macarrão na mão, apertavam, percebiam que escorregava, devolviam aos recipientes ou jogavam no chão e repetiram a ação.

Sentindo-se à vontade com a liberdade de movimentos e a pesquisa, as crianças expressavam vários “óia” apontando e mostrando os materiais para as professoras, que intervinham traduzindo as falas e sinalizando o que elas estariam dizendo: “é molinho?”, “quanto macarrão!!!” É enroladinho?…

A certa altura, as professoras se aproximaram dos grupos e convidaram: vamos deixar o macarrão colorido? Depois de pingar algumas gotas do corante, propunham: agora mexe!

Fraterno 3

As crianças perceberam as cores de imediato nas colheres e nos dedinhos que usaram para mexer, e mais “Óia, óia!” surgiram.

Também os sons sensibilizaram: os macarrões crus e as bacias de metal ressoavam quando mexidos.

Com o equilíbrio recém conquistado, as crianças procuraram se deslocar cuidadosamente, desviando dos recipientes e dos macarrões caídos no chão. Muito bom perceber a busca da delicadeza nos movimentos.

Algumas crianças não quiseram participar da proposta e preferiram ficar na sala brincando. A sala tem uma saída direta para o espaço externo utilizado, favorecendo o trânsito das crianças e das professoras entre os dois ambientes.

Decorridos 25 a 30 minutos, alguns pequenos começaram a brincar com os brinquedos do pátio e acompanharam as professoras para tomar banho. Os que continuaram na proposta foram respeitados até que o foco de interesse mudou.

A Creche Fraterno testou e comprovou que a atividade com macarrões, recipientes e colheres pode ser muito interessante para bebês que sentam e até para os maiores que se locomovem com independência. Basta prever a organização adequada do ambiente e refletir sobre as possíveis intervenções dos professores.

A repetição dessa proposta propicia o aprofundamento das pesquisas das crianças e a introdução de pequenas variações, como acrescentar outros recipiente, talheres e formatos de massa, promovem ampliações nas experiências.

logo Creche FraternoAgradecemos à Creche Fraterno e sua equipe por compartilhar esses momentos de delicadas conquistas!
Coordenador: Rosângela Laodice Gonçalves
Diretora: Eliana Pasqualini Fernandes
Professora da turma: Michelle Catarina Barbosa
Professoras participantes: Iza Araujo Messias e Sandra de Silva Theodoro
Lactarista: Sandra Nicolino
Orientadora Pedagógica, Wildes Gomes de Campos e chefe da seção SE-116, Aline Bispo de Souza, ambas da Secretaria de Educação da Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo – atendimento às entidades conveniadas.

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Balão-Para-Saber-MaisA  Creche Fraterno é uma das obras da Fraterno Associação Assistencial, uma instituição sem fins lucrativos fundada em abril de 1985, com o objetivo de realizar a promoção social  do ser humano apoiando crianças e famílias em situação de vulnerabilidade. Para isso, desenvolve atividades de orientação, executando projetos que fortalecem vínculos familiares e comunitários.

A Fraterno mantém convênio com a Secretaria de Educação da Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo que, além dos recursos e insumos, propicia acompanhamento pedagógico e formação para os gestores e demais profissionais da creche.

Leia mais sobre Planejamento Pedagógico e Registro nas postagens:

 

6 comments

Bom dia!
Vejo a experiencia sensorial como algo realmente importante para o desenvolvimento das crianças em idade de creche, porém a escolha dos materiais me deixa um pouco pensativa considerando as características da faixa etária e sua percepção de mundo.
Por exemplo, ao explorar o macarrão cozido, será que a criança não faz uma confusão a respeito da função social do alimento? Ora pode ser considerado um brinquedo, ora serve para alimentar.
Como será que estes bebês vão se relacionar com o macarrão nos momentos de refeição? Vão espalhar macarrão pelo corpo? Sentir com os pés e cabelos?
E por que antes se podia brincar com este material e agora não se pode mais? O que mudou? não é o mesmo material?
Temos materiais alternativos que possam imprimir esta mesma experiência sensorial sem ter aparência de alimento? A construção de massinha caseira, com a finalidade de ser massinha de modelar, tingida com cores que não se encontra em alimentos habitualmente seria uma alternativa? Ou por que não uma aulinha de culinária em que se pode fabricar paezinhos e explorar cada ingrediente e suas propriedades até que a massa tenha forma, e então cada criança sovaria sua massa e modelaria seus pães até que estes fossem assados e degustados.
Enfim, fiquei pensativa sobre estas questões e gostaria, se possível, de uma postagem sobre o entendimento literal que crianças entre zero e três anos fazem sobre o mundo e sua necessidade de vivenciar experiências concretas e reais.
Obrigada!

Olá Alexandra!
Que bacana receber as suas reflexões e perceber que a postagem lhe cutucou.
Vamos pensar numa postagem sobre o “entendimento” dos pequenos, sim. Mas, por enquanto, adiantamos e alimentamos essa reflexão.
As crianças nessa faixa etária estão sempre brincando: elas brincam de andar, de correr, de engatinhar, de lavar as mãos, de comer e brincam de brincar. O próprio brincar mais simbólico os faz fantasiar sobre tudo o que chega às suas mãozinhas. Então, os pratinhos e colheres do canto de casinha podem se transformar em poderosos objetos sonoros, as caixas utilizadas para guardar materiais viram carrinhos e… os macarrões, organizados num ambiente propositor e desafiador, se transformam em rico material de pesquisa. Essa capacidade de ampliar os significados mora nas crianças e as acompanha ao longo do dia. Contudo, as crianças vão construindo conjuntos de referências que contextualizam os momentos. Assim, a hora de comer tem seus rituais, acontece num ambiente específico, com postura própria, cheiros, sons e até mesmo uma barriguinha roncando. São muitas informações juntas que, aos poucos, sinalizam a hora de comer e também a hora da soneca, a hora de desenhar etc etc etc…
Será que esse caminho de pensamento atende a sua dúvida?
Grande abraço!

Olá amigos(as) de Tempo de Creche!
Obrigada pelos esclarecimentos!! Vou continuar pensando sobre a função social dos alimentos, esta é uma barreira que ainda não consegui superar com meus pequenos, eu sempre tento buscar materiais que não gerem confusão em suas cabecinhas e também me preocupo com a mensagem de desperdício que eventualmente podemos transmitir (por melhor que sejam as intenções), por isso acabo optando sempre por trabalhar com os alimentos em receitas para desenvolver o aspecto sensorial, acho importante contextualizar.

Outra questão parecida que pode gerar confusão ocorre quando damos revistas para que os bebês rasguem.. eles ficam a vontade e felizes com esta atividade, entretanto, quando oferecemos livros de história para folhearem, não queremos que tenham a mesma atitude de rasgar. É evidente que a postura do professor de estar sempre conversando com o grupo vai construindo este saber gradativamente, mas leva tempo para que compreendam o porque de poder rasgar um material e o outro, que é tão semelhante, não! Ficarei no aguardo sobre a postagem de como as crianças pequenas compreendem o mundo, sua relação com o real e o entendimento literal sobre o que dizemos.
Para ilustrar, deixarei o link de um vídeo muito famoso que exprime esta ideia: https://www.youtube.com/watch?v=L1VncFDlOiw

Mais uma vez obrigada! Um forte abraço.

Olá Alexandra!
Que bom que conseguimos te provocar.
Veja, apesar dos seus novos comentários, continuamos acreditando que as crianças não são tão literais e que outras leituras as levam a definir suas atitudes: as expressões dos adultos, a postura, os ambientes preparados, os momentos da rotina e muitos outros sinais indicam as atitudes que as crianças vão aprendendo a assumir. Sempre trabalhamos com revistas em nossas formações e nunca vimos crianças rasgarem livros por conta dessa associação.
Abraços!

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