Palavra de… Solange Muszkat: inclusão, autismo e a atuação do educador

Palavra de… Solange Muszkat: inclusão, autismo e a atuação do educador

Tempo de Creche tem recebido diversas mensagens de educadores com dúvidas sobre inclusão, trabalho pedagógico com crianças com deficiência e autismo. 
Conversamos com a pedagoga e especialista em inclusão, Solange Z. Muszkat, sobre a postura e as ações práticas para incluir crianças especiais e garantir o desenvolvimento de de todo o grupo. 

Tempo de Creche – O que as creches precisam garantir para que seus professores possam trabalhar com crianças com deficiência em suas turmas?

Solange – É extremamente necessário que gestores escolares e professores estejam abertos à chegada de crianças com necessidades educacionais especiais (NEE), acolhendo-as e desprendendo-se de velhas crenças para que o resultado seja positivo.

Não existe um perfil ideal de professor para trabalhar com crianças com NEE. O professor que está preparado para atuar como educador, em tese, estará apto a trabalhar com todo o tipo de criança, seja com NEE ou não.

Além da formação de base, é preciso garantir aos professores materiais e salas adequadas e constante reciclagem, oferecendo-lhes cursos e oficinas. A boa vontade e amar o que se faz são  primordiais para o bom desenvolvimento de crianças com NEE.

Tempo de Creche – Quais dicas você daria para o professor desenvolver propostas que integrem crianças com deficiências nas atividades?

inclusãoSolange – O contato com a diversidade, irá beneficiar todo o grupo. Todos ganham cognitivamente, socialmente e, principalmente, no campo da afetividade. Porém, os professores que tem crianças com NEE em suas turmas precisam ser flexíveis. Para que a criança com NEE não se sinta excluída, é preciso que ela integre grupos pequenos e que o professor conte com o apoio de um auxiliar ou monitor. Assim, ao desenvolver atividades com a turma, o professor pode fazer um revezamento com o auxiliar, ficando ora com a turma e ora com a criança com NEE.

É preciso planejar atividades paralelas, que chamem a atenção e despertem o interesse das crianças com NEE. As propostas devem incluir objetos que promovam interação, comunicação e imaginação, fazendo com que essas crianças não tenham motivos para desconcentrar o grupo maior e estejam realizando também suas experiências e descobertas . Assim, enquanto as crianças realizam propostas pedagógicas mais complexas, a criança com NEE pode desenhar no papel ou na lousa, jogar, montar um quebra cabeça, brincar com panelinhas, potes e objetos de uso diário, ler livros, jogar bola e pesquisar sucatas. É importante lembrar que se a criança se sente sozinha e excluída, ela fará qualquer coisa para chamar a atenção… como qualquer criança!

atividades para crianças autistas

Nas propostas de artes, música e atividades para o corpo, geralmente não é necessário planejar propostas paralelas, uma vez as linguagens artísticas favorecem a expressividade e o envolvimento de todos, dispensando a atenção totalmente individualizada dedicada à criança com NEE.

Tempo de Creche – O autismo é uma das deficiências menos compreendidas por educadores. O que caracteriza uma criança autista? Como as professoras podem lidar com a instabilidade emocional desses pequenos?

Solange – Normalmente a criança autista gosta de se isolar e utilizar as pessoas como ferramenta para realizar seus desejos. É comum terem um grande obstáculo na comunicação, porque não gostam de estar na companhia nem de crianças e nem de multidões.

A instabilidade emocional ocorre por conta de mudanças, por exemplo, de ambiente. Os autistas não aprovam mudanças e muito menos toleram barulho, que os deixa irritados e confusos, podendo até chegar ao surto.

Mais uma vez, é imprescindível a presença de um auxiliar/monitor para que fique com essa criança nos horários de recreio e atividades mais barulhentas. Quando o professor sentir que esta criança está incomodada, deve pensar em mudar a turma de ambiente ou solicitar ao auxiliar que leve a criança autista para passear pela escola, buscando locais tranquilos para que o pequeno possa se acalmar e relaxar, evitando um surto. Outro recurso é pesquisar para disponibilizar objetos que a criança autista goste de utilizar nos períodos de isolamento e permitir que objetos de conforto (se a criança os tiver) sejam levados para todos os locais, de acordo com a preferência do pequeno.

Tempo de Creche – Você tem mais dicas práticas para os educadores que trabalham com crianças com deficiência em suas turmas?

Solange – Antes de tudo, dependendo da faixa etária, as crianças da turma devem ser informadas sobre a presença do amiguinho que é diferente delas:

  • Quando o professor fizer a roda de conversa, pode passar de maneira bem tranquila que a sala vai ter um amigo diferente, que ele vai precisar do carinho de todos e, em especial, do(s) professor(s).
  • Explicar que o amigo especial não consegue fazer determinadas coisas sem ajuda e, se ele precisar, os amigos e a professora terão que ajudar.
  • Toda a conversa didática e bem pontuada faz diferença.

Quanto à criança com deficiência, caso ela não queira contato físico, como por exemplo dar a mão, o professor deve utilizar somente a voz, chamando-a com muito carinho e pausadamente, até que ela se sinta segura. Caso ainda não queira dar as mãos e nem chegar perto do professor ou do auxiliar/monitor, a opção é ficar ao seu lado para transmitir segurança e acolhimento. Aos poucos, a criança começará a cutucar ou puxar o professor para que a leve a um determinado lugar. Tudo deve ser feito com paciência e tranquilidade. Ao transmitir um estado de ansiedade, tudo ficará mais difícil porque essas crianças são ansiosas por natureza.

O importante é respeitar a diversidade e a singularidade de todas as crianças!

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Solange Z. MuszkatSolange Z. Muszkat é pedagoga com especialização em deficiência pela PUCSP e Psicopedagogia pelo Renascença. Atua há 25 anos na inclusão de crianças e adolescentes com necessidades educacionais especiais como coordenadora em escolas e instituições e realizando ações formativas.

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6 comments

boas as dicas, mas a realidade das escolas publicas está longe de ser o ideal para uma educação inclusiva de qualidade.

Deve se respeitar o tempo e o espaço da criança, não forçá-lá em momento algum, mas proporcionando a ela várias formas de descontração e acolhimento, para que se sinta segura no ambiente escolar ou em qualquer outro lugar.

Amo trabalhar com crianças especiais, me identifico muito com elas, pena que a rotina da creche ainda é um limitador, para o trabalho pedagógico eficaz

Professora da sala AEE e na Educação Infantil na sala atender os pequenos. GOSTARIA DE SUGESTÕES…Pois o ano q vem vamos fazer cumprimento sobre como atender as crianças de Educação Infantil. Obrigada

Olá, Cláudia. Não ficou claro que tipo de sugestões você solicitou. Para encontrar as postagens de seu interesse procure nas abas do topo da página ou, se preferir, pode clicar nas abas das publicações reunidas por temas na HOME. Na aba PLANEJAMENTO DE PROPOSTAS DE ATIVIDADES, por exemplo, que tal dar uma olhada na postagem – Cantos de atividades diversificadas e Jogos heurísticos: muitas brincadeiras! e na aba BRINCAR, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS a postagem – 10 sugestões de materiais e brincadeiras para a hora do parque. Abraço.

Achei a reportagem muito legal e esclarecedora, mas infelizmente nas creches publicas ou que são parceiras do poder publico, não garante o monitor ou professor auxiliar para ajudar o educador nesses casos.

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