Roda de conversa: ancestral e primordial

Roda de conversa: ancestral e primordial

Raiou o dia na escola, faz-se uma roda. Começou uma atividade, faz-se uma roda. É preciso dar avisos, faz-se outra roda. Na rotina das escolas de Educação Infantil, um dos meios mais utilizados para a organização do coletivo é a roda. Mas por que fazer roda de conversa com as crianças pequenas? É só um ritual? Para que ela serve? O que as crianças aprendem ao participarem delas?

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A partir da solicitação de uma leitora, organizamos alguns pensamentos sobre os aprendizados que nascem do exercício rotineiro da roda.

Conversar em roda é um movimento humano muito antigo, ancestral. Podemos lembrar as rodas dos povos tradicionais da Austrália, da África e do Brasil. Organizar-se em roda favorece o convívio e o diálogo em família, com amigos, em comunidades.

Na Educação Infantil a roda é uma forma de organizar o grupo de crianças em torno de um objetivo comum. É um importante processo gradual e permanente de aprendizagem do coletivo.  Portanto, a roda de conversa requer intencionalidade educativa, planejamento e reflexão constante. Ela não nasce gratuitamente na rotina.

O planejamento do momento da roda precisa incluir a escolha de assuntos de interesse do grupo e de materiais que enriqueçam a pesquisa e o envolvimento das crianças. É preciso que o professor acione o olhar e a escuta para as formas de expressão e de comunicação dos pequenos, bem como para as indagações que surgem e, assim, fazer a mediação das conversas.

Pensando na intencionalidade, sabemos que a roda está no rol das atividades da rotina, porém nem sempre o professor tem a preocupação do por quê e do para quê: os motivos e os objetivos desse recurso. Comumente, fazemos roda para realizar a chamada, registrar o dia no calendário, o clima/tempo, chamar a atenção para combinados, dar recados ou até para conter o grupo.

Será que a roda de conversa só serve para isso?

A roda, se entendida como espaço de convívio e de comunicação, pode ser muito mais. A Roda de Conversa é um círculo de aprendizagem e desenvolvimento. Para o professor é metodologia e encaminhamento da ação.

roda-de-conversa1É nela que nasce o diálogo e a habilidade de compreender e lidar com os conflitos surgidos na relação com o outro. No desafio de participar da conversa em roda, cada criança exercita o direito de se manifestar, de observar, de emitir opiniões e de pronunciar a sua forma de ver o mundo. Assim, cada roda é única ao agrupar as singularidades presentes.

 

Rodas “circulares”… pensando no formato, a roda carrega o desenho do abraço! Ela acolhe a pluralidade e, por conta desse espírito receptivo, a roda é geralmente adotada como a primeira atividade coletiva do dia das crianças. Por isso, esse espaço de acolhimento é precioso para compartilhar as curiosidades sobre o mundo. Com esse gancho, o professor pode colocar perguntas abertas para convidar as crianças a pensar, trocar informações, elaborar hipóteses e desenvolver investigações. A roda é, então, um terreno fértil para o professor pescar temas interessantes, construir projetos com os pequenos e compartilhar o percurso das pesquisas.

Mas como a criança aprende a participar das rodas?

Quando as crianças chegam à escola não sabem fazer roda. Os primeiros diálogos fora do contexto familiar começam em dupla com o educador. Aos poucos, percebendo que pode se expressar com outras crianças e outros adultos da escola, ela passa a diversificar o contato. Nesse sentido, vão percebendo que o diálogo é favorecido e vão chegando devagarinho para participar das rodas.

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Desse modo, os pequenos acompanham de longe o que acontece naquela reunião de pessoas. Vão ficando intrigados e, de tempo em tempo, visitam a roda. Às vezes conseguem compreender o que se passa nela e às vezes conseguem ser compreendidos. Mas às vezes não conseguem nada disso e não veem sentido em participar. Nesse ponto é importante lembrar que os bebês e as crianças bem pequenas entendem mais palavras do que são capazes de verbalizar. Cabe, então, ao adulto traduzir no coletivo a intenção comunicativa dos gestos, das fisionomias e das palavras inventadas pelos pequenos.

À medida que crescem, a comunicação se amplia e também começa a interação com outros bebês e crianças do grupo. As palavras vão se transformando em esboços de frases e algumas ideias começam a ser colocadas pelas crianças. Então o papel do professor, que continua traduzindo as palavras para o grupo, se amplia no sentido de investigar as ideias e sugestões dos pequenos. Nesse caldeirão conversatório é que começam as preciosas perguntas das crianças e as pistas para o professor provocar o pensamento e a criatividade. A roda passa a ser um instrumento de levantar pistas para planejamentos interessantes aos “interessados”.

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O interesse reúne o grupo.

 Quais as conquistas das crianças ao participarem dos momentos de roda? Qual o papel do professor ao mediar a roda?

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Leia as postagens:

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Bibliografia:

> A Linguagem Oral e as Crianças Possibilidades de Trabalho na Educação Infantil de Silvana de Oliveira Augusto. Disponível em:
acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/446/1/01d14t03.pdf

> A roda de conversa e a democratização da fala – Conversando sobre educação de infância e dialogicidade – Adilson Lopes; Zelma Castelan; Véra Pestana. Instituto Paulo Freire, Portugal. Disponível em: http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/446/1/01d14t03.pdf

> A RODA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Aprendendo a Roda aprendendo a conversar de Maria Claudia Bombassaro. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/28810/000772947.pdf

-> Sistematização Roda de Conversa. Disponível em: http://gestaoescolar.org.br/pdf/sistematizacao-roda-de-conversa.pdf

> Pequenas conversas aprendendo a conversar com as crianças, postagem de Patrícia Saar Paz. Disponível em:
https://multiversoterapeutico.com.br/2016/04/04/pequenas-conversas-aprendendo-a-conversar-com-as-criancas/

3 comments

Muito interessante este espaço de discussão sobre a educação infantil. Sou educadora musical e gostaria de manter contato. Obrigada

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