Uma proposta artística para provocar pesquisa e escuta

Uma proposta artística para provocar pesquisa e escuta

Que tal a sensação de caminhar sobre esponjas macias que marcam as passadas?
É possível pintar com os pés?
O que podemos ouvir das crianças quando são provocadas e fazem suas pesquisas?

Selecionamos uma proposta da coleção Fazendo Arte do PIM – Programa Primeira Infância Melhor, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul para pensar sobre pesquisa e escuta.

O PIM é um programa de política pública pioneiro no Brasil, desenvolvido em 2003. É uma ação de promoção do desenvolvimento integral da primeira infância que se apoia em três eixos: família, comunidade e intersetorialidade (saúde, educação, assistência social, cultura e justiça). O programa se desenvolve através de visitas domiciliares e comunitárias. Um time de visitadores capacitados visita semanalmente famílias em situação de risco e vulnerabilidade social, e constrói com elas o fortalecimento de suas competências para educar e cuidar das crianças.

Os materiais elaborados pelo grupo técnico do PIM para capacitação da equipe de visitadores estão disponíveis no site do programa e podem ser baixados gratuitamente.

Colecao-Fazendo-Arte

coleo-fazendo-arte-pim vol4Destacamos a Coleção Fazendo Arte, elaborada pela arte-educadora Ana Maria Reissig Oliveira, composta por 4 volumes de livros gostosos de explorar e ler. Coloridos, com ilustrações e muitas receitas de brinquedos, jogos, livros, materiais plásticos, instrumentos musicais, bonecos e fantoches para fazer. Os livros trazem repertório de músicas, poemas, dobraduras, teatro e instruções para o cultivo de plantas interessantes para os pequenos. São 800 páginas com muitas dicas!

Escolhemos uma proposta de experimentação de materiais plásticos que vai desafiar e provocar o instinto pesquisador dos pequenos. Mas não se esqueça: valorize as perguntas e hipóteses das crianças durante o processo!

A sueca Liselott Olsson, pesquisadora e estudiosa da primeira infância, defende a importância de ouvirmos as perguntas das crianças com respeito e seriedade. Liselott se lembra de um livro publicado por uma pré-escola sueca sobre o projeto “No ar”, que seduziu crianças e equipe pedagógica por dois anos:

O livro é repleto de processos de aprendizagem admiráveis, experimentações, invenções e relações. Mas o que fica evidente é que as perguntas das crianças são sempre mais amplas, lúdicas e, ao mesmo tempo, mais sérias do que imaginamos. Elas surgem na mesma medida das ambições das crianças pela aprendizagem. ‘Quero aprender a voar, como fazer uma pessoa voar?’, pergunta um pequeno no início do projeto. Quando esse tipo de pergunta sai da boca de uma criança, ela pode ser considerada deliciosa, fofa, engraçada e repleta de fantasia. Ao mesmo tempo, é encarada como irreal, irracional e até absurda. Porém, à luz da história humana das invenções, antes que o homem pudesse voar, esse tipo de pergunta era ouvida com seriedade. ‘Antes que o homem pudesse voar’… é nessa dimensão de conhecimento e aprendizagem que se encontram as crianças, um não saber em que é possível inventar.

Pesquisa e escuta…
Ouvindo seus pequenos você poderá identificar e valorizar colocações fundamentais para encaminhar, ampliar e favorecer pesquisas e aprendizagens intensas, criativas e promotoras de desenvolvimentos. Planeje-se com antecedência para organizar suas propostas de modo a dedicar alguns momentos para a escuta e observação das crianças, mesmo que somente algumas de cada vez.

 Proposta PINTANDO COM SAPATOS DE ESPONJA

Material

  • pratos com tintas coloridasFolhas grandes de papel (kraft, branco ou jornal)
  • Fita crepe
  • Bandejas, bacias rasas, travessas ou recipientes rasos porém grandes o suficiente para que as crianças possam pisar dentro deles.
  • Esponjas – duas para cada criança
  • Fita, barbante ou elástico de tecido “achatado” (tipo de lingerie)
  • Tintas guache em diversas cores

Balão-na-PráticaOrganização da Proposta

pés com esponjas para pintarForre uma área grande com o papel, fixando as pontas com fita crepe. Essa ação é importante para evitar que as folhas se desloquem e as crianças escorreguem.

Fixe as esponjas nos pés das crianças com fita, barbante, elástico ou até mesmo uma volta completa de fita crepe.

Coloque as tintas nas bandejas e as posicione juntas, duas a duas (para as crianças poderem pisar nas duas bandejas ao mesmo tempo, e depois, sobre os papeis fixados no chão).

→ Despertar para os materiais

Inicialmente ajude as crianças a caminharem com as esponjas nos pés. Permita que sintam com os pés a textura do material e a maciez. Isso já vai ser uma brincadeira interessante!

→ Explorar e descobrir

pintura com esponja nos pésDepois que tiverem firmeza para caminhar com o material e a exploração já pedir novos desafios, encoraje os pequenos a pisarem nas bandejas com as tintas. Você pode deixa-las cobertas com jornal e, nesse momento, descobrir o material. Podem começar pisando só com um pé e, depois, conquistando o equilíbrio, pisar em duas bandejas ao mesmo tempo.

Note e valorize as marcas das passadas. Pergunte se são iguais, diferentes, se são grandes, pequenas, se caminham muito ou pouco… Provoque os pequenos. E espere as respostas!

Repita essa proposta em outros momentos. Crianças precisam experimentar e testar suas hipóteses várias vezes.

pulando amarelinha e pintandoVocê pode variar a proposta colando papeis na parede, próximos ao chão e propondo que as crianças se deitem para pintar a parede com os pés.

Outra possibilidade é variar o material fixado nos pés: meias velhas, estopa, algodão e até sapatos que não são mais usados (já pensou em quantas marcas diferentes será possível fazer?).

pintura com sapatos

→ Acabando a brincadeira suavemente

marca dos pés da bonecaPerceba quando o espírito de exploração começa a diminuir para encaminhar a finalização. Talvez algum pequeno comece uma nova brincadeira que possa ajuda-la a ir acabando a proposta suavemente. Para não ter choro, birra e frustração, o segredo é acabar uma brincadeira propondo outra mais calma e mais curta. Uma sugestão que talvez se encaixe no contesto da sua turma é experimentar uma ciranda aproveitando as pisadas nas esponjas. Pode ser engraçado!

→ Registre os momentos especiais

O envolvimento com a proposta, as relações, os movimentos, as dúvidas, perguntas, explicações que as crianças levantam e as conquistas e aprendizados. Reflita sobre suas fotos, filmes, e anotações para ampliar a proposta ou encaminhar novas atividades a partir dos interesses registrados.

E mais importante… valorize o que passa nas cabecinhas brilhantes da sua turma. Grandes conquistas surgem a partir dos sonhos. Vamos contribuir para formar seres humanos mais sonhadores.

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Balão-Para-Saber-Mais

Liselott Olsson→ Liselott Mariett Olsson é doutora em Cultura e Educação e trabalha no Departamento de Ciência da Didática e Educação Infantil da Universidade de Estocolmo, Suécia.

→ Leia mais sobre escuta das crianças e organização de propostas nas postagens:

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