Formação de professores: a relação entre a teoria e a prática pedagógica é possível

Formação de professores: a relação entre a teoria e a prática pedagógica é possível

A inquietação de uma leitora nos mobilizou a buscar pensamentos e opiniões de estudiosos sobre a Formação de Professores. Ela comenta que há um abismo entre a teoria e a prática pedagógica, difícil de ser enfrentado. Esse sentimento, às vezes, pode paralisar o educador que passa a repetir apenas o que já experimentou ou conhece.

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Nos documentos oficiais e, geralmente, nas propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil, é possível analisar a visão de criança, suas capacidades e como ela aprende. Mas sabemos que as práticas educativas não são homogêneas, mesmo a partir dos avanços legais e dos estudos atuais sobre a infância. As metodologias partem de diferentes concepções teóricas sobre educação, criança, desenvolvimento cognitivo, linguagem, a cultura e a própria sociedade[1]. Destas definições deriva o papel de educador, sua capacitação e seus saberes.

O que está além das diferenças observadas e praticadas é a importância de se entender a formação como uma ação coletiva. Conforme Vygotsky[2], é na interação social que o processo de formação humana se dá, a partir e por meio de indivíduos que se relacionam. Esse aspecto é esquecido na prática diária do professor, que valoriza as fundamentações ao educar as suas crianças, mas não percebe que ele também é um eterno aluno que aprende por meio das relações e das trocas. É a partir do estudo da prática compartilhada entre a equipe que surge a necessidade do aprofundamento teórico. É no diálogo que as questões são levantadas.

Reunião Pedagógica pbA educadora Fátima Camargo[3] esclarece que o processo de formação do profissional de educação implica em trabalho permanente de reflexão, que se faz, num primeiro momento, sobre a prática, sobre o fazer cotidiano de cada um. Mas estudar dá trabalho! E este estudo só ganhará sentido se e quando a teoria se refletir na prática, isto é, trazendo esclarecimentos e aprofundamentos que mantenham vivo o movimento de reflexão.

Este processo possibilita ao coordenador/formador a escolha do conteúdo a partir das necessidades individuais e coletivas identificadas nos participantes do grupo.

Mas de que forma? São muitas questões!

  • Como cada profissional compreende a aprendizagem e a elaboração do conhecimento?
  • Como anda o estudo das teorias que fundamentam o trabalho do professor? Quais autores são pesquisados? Quais são conhecidos, mas pouco estudados? Quais ainda são desconhecidos?
  • E os documentos legais dos sistemas de ensino (federal, estadual e municipal), quem estudou? Quem entende? Quem usa?
  • O conhecimento pode ser construído coletivamente? Qual o papel do grupo nesse processo?
  • Como identificar e contemplar os interesses individuais de cada professor?
  • Como encaminhar as necessidades percebidas pela coordenação?
  • Como encaminhar o crescimento da equipe de educadores?

O caminho para a formação da equipe como um todo passa pelo alinhamento de das visões de criança e a concepção de educação infantil. Mas esse alinhamento se faz no processo das discussões e reflexões sobre o que cada professor traz de sua prática. Esse conteúdo é o registro do cotidiano, refletido individual e coletivamente. Assim, se destaca nesse processo a importância do papel do grupo na formação de cada professor.

As palavras de Madalena Freire esclarecem:
“Muito temos aprendido e muito temos ainda a aprender, mas também já construímos algumas certezas. Acreditamos que o registro da reflexão sobre a prática pedagógica, juntamente com o estudo teórico e o aprender a observar, avaliar e planejar, inseridos no aprendizado de viver em grupo construindo vínculo e conhecimento, necessita ter um acompanhamento permanente, no núcleo da escola.”

Grupo de estudos professores pbFinalmente, surgem alguns caminhos:

  • os processos de avaliar e planejar;
  • a aprendizagem do observar;
  • o registro da reflexão sobre a prática pedagógica;
  • o estudo teórico que o acompanha;
  • o aprendizado de viver em grupo construindo vínculo e conhecimento,
  • o acompanhamento permanente, no núcleo da escola, com espaços e tempos definidos de reuniões com a coordenação e reuniões gerais.

Não tem outra maneira. É uma questão de puxar a equipe para estudar e conversar. Começar por organizar os tempos e espaços para que os encontros aconteçam (por exemplo, o momento do sono das crianças pode ser um caminho para a coordenação se reunir com um dos professores das salas). Depois, pesquisar materiais formativos: pequenos textos retirados de livros; artigos e reportagens de blogs e revistas especializadas; trechos ou vídeos curtos sobre a criança e a educação; registros (relatos, fotos e vídeos) de casos práticos para repensar e refletir.

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Estabelecendo uma rotina de estudos, conversas e encontros, a equipe vai conquistando possibilidades para testar, refletir e definir sua personalidade e crenças. Assim, as novidades que chegam, seja na forma de documentos oficiais ou de novas propostas metodológicas, encontram profissionais críticos para compreender, estudar, testar e se posicionar quanto aos conteúdos. Sem mistérios!

[1] [In: “O Cotidiano na Educação Infantil” PROPOSTA PEDAGÓGICA Patrícia Corsino – Salto para o Futuro]
[2]VYGOTSKY, Lev. A formação social da mente. 4a edição. São Paulo: Martins Fontes, 1991; e Pensamento e linguagem. 5a reimpressão. São Paulo: Martins Fontes, 1993. Citados em O Cotidiano na Educação Infantil
[3] Fátima Camargo pedagoga com longa prática na Educação Infantil como professora e coordenadora também de Fundamental 1, sócia e educadora no Espaço Pedagógico

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2 comments

Excelente as orientações aqui postadas, estão contribuindo muito para qualificar o trabalho na escola.

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