O ato de registrar e refletir faz parte da alma do professor?
Professores percebem o real valor da documentação pedagógica?
Sabemos que os registros são instrumentos vitais para a Educação, em especial, na primeira infância.
Refletir sobre o ocorrido é fundamental para encaminhar o planejamento da relação professor-criança e estabelecer os caminhos de uma atuação que amplie o brincar, as relações, as expressões, as pesquisas, as descobertas e a identidade dos pequenos.
Mas temos noção da dimensão da Documentação Pedagógica no dia a dia da atuação com as crianças?
Tudo parte de uma insensatez: o professor de um grupo de crianças (às vezes muitas e bem pequenas!) deve estar por inteiro, mergulhado na organização e desenvolvimento das propostas, na mediação, no cuidado e (ufa!) …. na realização da tal da DOCUMENTAÇÃO!
Isso é possível?
Se é, como proceder?
Não existe uma resposta!
Estamos todos no mesmo barco e, por isso, troca de informações entre a equipe, apoio por meio de formação e pesquisa é fundamental para inspirar e orientar.
Mas existe uma outra questão primordial para dar suporte ao desenvolvimento dessa prática: contar com a ajuda efetiva dos colegas! Como nossa realidade e dificuldade são as mesmas, um planejamento que possa antecipar o auxílio de um colega, uma auxiliar de sala/volante, um coordenador, no momento de desenvolvimento de uma proposta intensa e reveladora, é fundamental. Quando o professor precisa estar de corpo e alma na mediação, mas percebe que registros amplos e bem estruturados serão vitais para contribuir com futuros encaminhamentos, porque não procurar uma ajuda planejada antecipadamente? Orientar o colega que se disponibilizou a auxiliar, sobre a pauta do olhar da proposta, vai permitir que o professor realize a atividade dedicando-se por inteiro a ela.
Em outra ocasião, também planejada com antecedência, poderá ser a vez desse professor auxiliar outro colega.
Mais uma questão importante: não é preciso registrar TUDO o que acontece! Você não é um detetive da polícia! Deixe a poesia dos acontecimentos guiarem seu olhar e seu sentir. O que está acontecendo naquele canto? O que está ocupando e intrigando aqueles pequenos no momento? O grupo todo se interessou e está pesquisando junto? Algumas das crianças estão propondo outras coisas?
Foque somente em uma ou outra questão para poder investigá-la a fundo. E, se nas imagens, você acabar percebendo outros acontecimentos, ótimo! Ganhou a chance de refletir sobre eles também. Aprofundamos esse assunto na postagem Registro e Documentação Pedagógica: da dor de cabeça ao papo cabeça.
Com os registros em mãos … onde está o tempo para analisar, refletir sobre eles e compor uma documentação?
Essa é outra situação em que o professor precisa “se virar nos 30” (como diz o Faustão)!
30 minutos, 30 segundos, 30 dias… conceitos que perseguem a Educação: O TEMPO!
Essa questão não vai se resolver se o educador tiver para si que registrar e documentar são exigências burocráticas. Documentação pedagógica exige esforço e dedicação que só podem ser conquistados quando se percebe seu valor para o trabalho no dia a dia.
Ao acordarmos pela manhã sabemos que a nossa missão é contribuir com uma infância saudável, rica de experiências e desenvolvimentos. Isso é claro! Mas o que não fica claro é COMO a documentação pedagógica pode contribuir com essa missão.
Veja, da mesma forma que acordamos com a “missão” na cabeça e no coração, despertamos para a realidade de ter que planejar o dia das crianças com a responsabilidade de fazer o melhor.
… E é nesse ponto que registrar e transformar registros em Documentação passam a ser essenciais ao gerarem um insight (um clique) no professor. Porque passamos a acordar sem a dúvida sobre O QUE FAZER! A documentação vai se encarregar de nos libertar desse questionamento tortuoso e trazer, em seu lugar, o desafio excitante da pesquisa de COMO fazer aquilo que já está definido na análise dos registros (“Documentação”).
Nesses documentos encontramos acontecimentos significativos:
- Os interesses individuais e coletivos,
- As conquistas e necessidades de avançar nos aprendizados
- As dificuldades pontuais e gerais
- O que é preciso partilhar com as famílias
- O que é importante tornar visível como memória do ocorrido para as crianças
- O que discutir em encontros e reuniões pedagógicas
- O que está dando certo e o que precisa ser reestruturado
- As situações que podem ser abordadas em relatórios…
… ufa! Que sensação boa poder contar com alguns destes dados, sem acordar com um peso na cabeça!
Desse modo, dedicar aquele tempo de “se vira nos 30” para realizar a Documentação passa a ser automático e deixa de ser sacrifício. É uma questão de sentir os benefícios de trabalhar dessa forma e perceber que a conquista de registros dedicados poderá gerar uma documentação pedagógica repleta de esclarecimentos, indicações e descobertas para professores, equipes, famílias e crianças.
…Ainda ficam algumas questões: como enxergar tudo isso nos registros? Como transformar os registros em DOCUMENTAÇÃO? Sabemos de fato o que capturar das cenas?
Mais intrigante ainda… temos a compreensão e a dimensão para interpretar esses documentos?
Mas isso é assunto para outra postagem!
⇒Inspirações:
Madalena Freire, A paixão de conhecer o mundo, 1999
Linda Kinney e Pat Wharton, An Encounter with Reggio Emilia, 2015
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⇒Leia mais sobre Registro e Planejamento nas postagens:
Um roteiro para começar registro e planejamento – parte 1
Um roteiro para começar registro e planejamento – parte 2
Na prática: a documentação pedagógica, relatos, registros e reflexões
O que planejar… alguma sugestão?
Planejamento Registro e reflexão organizados em duas práticas tabelas!
Por quê fazer registro?